Grande apreciadora de espumantes, Solange, minha mulher, me fez entender melhor esse universo, já que minha praia é dos vinhos, principalmente os tintos. Como estudiosa do assunto, ela já conversou com vários especialistas e me assegura: a vocação da Serra Gaúcha é para a produção de espumantes de alta qualidade – o terroir local tem o basalto como base e isso faz a diferença. Por isso, em nossa viagem recente para essa região fantástica do Rio Grande do Sul, provamos os espumantes da Serra Gaúcha, que são acima da média especialmente em Bento Gonçalves, Pinto Bandeira e Garibaldi, cidades coladas umas nas outras, fáceis de serem acessadas de carro por estradas razoavelmente boas.
O começo da Rota dos Espumantes
Nossa base foi o hotel Dall’Onder, em Bento Gonçalves, e a primeira visita foi à Vinícola Aurora, criada em 1931, localizada em área urbana, bem próxima do centro da cidade. E para quem pensa que a Aurora é só vinho de mesa barato, como o tradicionalíssimo Sangue de Boi, e suco de uva, a empresa (na realidade uma grande cooperativa de 1.100 produtores) produz vinhos finos e espumantes premiados.
Provei um Aurora Pinot Noir, por exemplo, que em nada deixou a desejar a bons vinhos da mesma uva degustados em Nappa Valley, a região vinícola da Califórnia. Outro que surpreendeu foi um Aurora Cabernet Sauvigon Reserva – e olha que nem sou chegado nessa uva.
Participamos de uma degustação de espumantes Aurora em uma sala moderna e estruturada para isso. Solange, como conhecedora do assunto, gostou bastante do que provou, mas não “amou” nenhum do que foram servidos. Bastante exigente, “amar” para ela é ir além do que as papilas gustativas dizem. “É uma mistura de sensações que só quem aprecia espumante sabe”, explica.
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O enólogo André Peres, da Aurora, me deu uma aula sobre o tema: o primeiro passo é escolher um espumante pelo método em que é produzido, Champenoise ou Charmat. No Champenoise (ou tradicional, como se diz no Brasil), a segunda fermentação se dá na própria garrafa.
É o mais antigo, inventado na região de Champagne, na França. Por isso, é um processo lento e quase sempre artesanal. No Charmat, o processo de segunda fermentação ocorre em tanques (hoje de aço inoxidável). Foi criado em 1895 pelo enólogo italiano Federico Martinotti e patenteado em 1907 pelo francês Eugene Charmat, daí o nome. Nesse método são produzidos milhares de litros de uma vez, de forma industrial.
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“O espumante elaborado pelo método Champenoise é mais complexo, tem cor dourada e aromas de fermento, panificação e frutas secas. A bebida elaborada pelo método Charmat é mais frutada, fresca e mais fácil ser bebida”, explicou Peres.
E para um gran finale, ele me ensinou reconhecer um bom espumante pelas borbulhas: se forem minúsculas, incessantes, de movimento ascensional lento, sinal de alta qualidade; caso sejam pequenas ou médias, sem muita consistência no movimento ascensional, prepare-se para a média qualidade; e se forem borbulhas grandes, esqueça, é espumante de baixa qualidade.
Ou seja, quanto menor e mais numerosas as borbulhas, melhor o espumante. Fora isso, é preciso também conhecer a diferença entre os níveis de doçura, pois os espumantes vão desde os Extra Bruts (os mais secos e menos doces) aos Demi-Secs (os mais doces). Aí entra o paladar de cada um.
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Do que provou na degustação na Aurora, o que mais gostou foi o Aurora Pinto Bandeira Extra Brut (R$ 99), feito pelo método Champenoise e 24 meses de guarda. Dos feitos pelo método Charmat, o que mais a agradou foi o Aurora Prodecência Brut Rosé (R$ 55), que leva uvas Pinot Noir e Riesling.
Conhecendo os espumantes de Garibaldi
Para continuarmos dentro de uma linha de tradição no primeiro dia de visitas a vinícolas, rumamos à tarde para Garibaldi (a 14 km de Bento Gonçalves).
Lá paramos diante de um prédio histórico e imponente, também em área urbana, conhecido como Castelo da Peterlongo. De imediato me veio à mente uma frase: “Quem no Brasil nunca tomou Espuma de Prata da vida, que atire a primeira taça”. Repeti para Solange e ela, depois de uma gargalhada, confessou: “acho que foi o primeiro espumante que tomei na vida”.
Na sequência, ela me deu outra aula, dessa vez sobre a Peterlongo: muito antes da fase decadente pela qual passou, a Peterlongo fez espumantes de exportação, dignos de competir com o champanhe francês.
Tanto que no rótulo vinha (e ainda vem) escrito a palavra Champagne. Com 102 anos de história, a Peterlongo tem o direito de usar essa nomenclatura por produzir desde 1915 seus espumantes pelo processo Champenoise, inventado pelos franceses da região de Champagne, hoje uma marca de origem que só eles (e a empresa gaúcha) podem usar.
A história da vinícola
Depois, durante a visita ficamos sabendo mais sobre a vinícola: ela foi criada pelo imigrante italiano Manoel Peterlongo, neto de um produtor de espumantes, que chegou ao Brasil em 1899. A produção começou em 1913 com o método Champenoise.
Dois anos depois foi oficialmente aberta a Vinícola Armando Peterlongo S/A, homenagem ao único filho homem da família, que assumiria os negócios em 1924 com a morte do pai.
O castelo da família foi construído em 1930 e segue os padrões da região de Champagne, incluindo área de varejo e cave subterrânea em pedras basálticas.
Na época da construção, as caves foram projetadas para proporcionar o ambiente ideal para a preservação de champagnes, o que inclui um túnel que capta o vento minuano, típico do Rio Grande do Sul, mantendo a temperatura estável no interior.
A Peterlongo conquistou o mundo
A Peterlongo conquistou o mercado internacional e, em 1942, levou seus espumantes para a conceituada rede americana Macy’s, em Nova York.
Com isso, a marca Peterlongo se tornou corriqueira em solenidades oficiais, batismos de navios e aviões. Também esteve presente em banquetes oferecidos durante o governo de Getúlio Vargas.
Com o sucesso, vinícolas francesas chegaram a questionar a utilização do termo champagne em rótulos de brasileiros. Em 1974, o Supremo Tribunal de Justiça do Brasil julgou improcedente o questionamento e a Peterlongo ganhou o direito da denominação, usado desde o início por Manoel Peterlongo.
Como anda a Peterlongo atualmente?
Hoje, comandada pelo empresário Luís Carlos Sella (tendo como sócio Adilson Bohatczuk), a empresa está em fase final de recuperação, superando uma fase decadente após a morte de Armando Peterlongo, em 1966.
A retomada passa pela produção de espumantes dignos de manter a tradição criada por Manoel e Armando, e uma das inciativas foi a contratação do enólogo francês Pascal Marty, que tem a missão também de desenvolver uma linha de vinhos finos das uvas Pinot Noir, Merlot e Chardonnay.
Degustação
Depois da visita, participamos de uma degustação de espumantes comandada pelo sommelier João Ferreira. Solange elogiou muito o Peterlongo Presense Extra Brut (R$ 60) e o Peterlongo Elegance Brut (R$ 150), ambos Champenoise. Dos produzidos pelo método Charmat, ela destacou com louvor Peterlongo Privillege Brut Rosé (R$ 40), de uvas Pino Noir.
Mais uma vez, não “amou” nenhum dos espumantes, mas achou que estavam mais equilibrados que os que provamos na Aurora. “O que me deixou feliz é que em ambas, na Aurora e na Peterlongo, bebi espumantes de alta qualidade. Isso confirma que o Brasil vive um momento de evolução nesse quesito”, avaliou Solange.
Para nossa surpresa, no dia em que visitamos a Peterlongo, havia um evento muito legal: o Wine Movie, uma sessão de cinema ao ar livre, com o filme projetado num telão 8 x 5 metros. Por sorte, conseguimos comprar o ingresso, R$ 40 por pessoa (se comprássemos antecipado teríamos pago R$ 30), com direito a uma taça personalizada com uma dose de espumante – se você quiser mais, paga a parte, e ainda tem pipoca, algodão doce, trufas, vinho e suco de uvas.
Essa programação ocorre na vinícola periodicamente e é restrita a 120 pessoas, que assistem ao filme sentadas ou deitadas sobre tapetes, distribuídos no gramado em frente ao telão.
Vimos naquele dia O Fabuloso Destino de Amélie Poulain bebericando espumante. E tivemos o prazer de conhecer a jovem enóloga gaúcha Deise Tempass, braço direito de Pascal Marty.
Serviço da Rota dos Espumantes
Vinícola Aurora
Vinícola Aurora – Maior vinícola do Brasil e primeira da região a abrir as portas para a visitação guiada, tem 86 anos de história e está no centro de Bento Gonçalves. Tem ainda uma unidade em Pinto Bandeira, na Rota Vinhos de Montanha, e outra no Vale dos Vinhedos.
A visitação é de segunda a sábado, das 8h15 às 17h15 e aos domingos, das 8h30 às 11h30. Informações: (54) 3455-2095 ou ou turismo@vinicolaaurora.com.br . Tem cursos de degustação, mas é preciso fazer reserva pelos mesmos contatos anteriores.
Vinícola Peterlongo
Vinícola Peterlongo – Com 102 anos, deu início à história do espumante no Brasil. Tem uma sede que é patrimônio arquitetônico do início do século 20, com túnel e cave subterrânea. Oferece visita guiada, degustações harmonizadas, espaço para eventos e o Wine Movie (cinema a céu aberto entre os vinhedos).
A visitação é de segunda a domingo, das 9h às 16h. As degustações harmonizadas são entre 9h e 16h e devem ser agendadas pelo e-mail eventos@peterlongo.com.br ou pelo fone (54) 3462-1355. Há dois preços: degustação da linha Presence, R$ 20 por pessoa (quatro espumantes elaborados pelos métodos Champenoise, Charmat e Asti); degustação da linha Elegance, R$ 30 por pessoa (cinco espumantes elaborados pelos métodos Champenoise, Charmat e Asti). Também é possível jantar na vinícola mediante reserva antecipada.
*Viagem a convite da Associação Brasileira de Enologia. O conteúdo do post é independente, baseado na opinião livre do autor
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