Fazia 17 anos que eu não visitava as vinícolas da Serra Gaúcha, na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Na época, eu era mais um brasileiro que engatinhava em busca de conhecimento sobre vinhos. Enófilo? Ainda não, curioso seria a melhor definição para quem começava a descobrir que em videiras nacionais havia coisa mais interessante que uvas de mesa.
De lá para cá, visitei várias regiões vinícolas mundo afora: Vale de Colchagua, no Chile; Mendoza, na Argentina; região de Bordeaux, na França; Napa Valley, na Califórnia; região do Douro, em Portugal… mas a primeira degustação jamais esquecerei. Foi na vinícola Miolo, parada inicial naquele roteiro feito em 2000 pelo Vale dos Vinhedos com um carro alugado em Porto Alegre.
Agora de volta a Bento Gonçalves, depois de quase duas décadas, logo de cara percebi como a cidade mudou. Parece mais pujante, moderna, com mais bares e restaurantes de boa qualidade, além das belas gaúchas (e que a Salete não me ouça) que nunca deixarão de existir nessas bandas do País. Com um quarto reservado no confortável Hotel Dall’Onder, descobri, ao conversar com um funcionário, que até poderia fazer um circuito pelas vinícolas de bicicleta.
Bicicleta e festa típica na Serra Gaúcha
O cicloturismo é uma das atividades que o hotel oferece aos hóspedes ( partir de R$ 130 por pessoa e há roteiros de 4 a 8 horas), e apesar de cinquentão, curto dar umas pedaladas sem compromisso, ainda mais se me oferecem guia, carro de apoio, água e lanchinho. Salete, ao contrário, não é muito chegada em veículos de duas rodas. Gosta mesmo é de correr (já disputou até uma São Silvestre), mas diante do meu olhar de Gato de Botas, concordou em acompanhar o maridão.
O que a animou foi ficar sabendo que o hotel também promove a ida de grupos de hóspedes para conhecer o Filó, a festa que os antigos colonos faziam para celebrar a vindima (período de colheita das uvas, de janeiro a março). E como escolhi justamente essa época de início da colheita de uvas para retornar a Bento Gonçalves, Salete percebeu que é uma chance única de ver de perto como os imigrantes italianos comemoraram esse momento tão aguardado depois de meses trabalhando na terra e torcendo para que nenhuma praga ou contratempo da natureza prejudicassem as videiras.
Como chegamos no meio da tarde, fomos informados que logo mais, às 18h30, poderíamos nos integrar ao grupo de hóspedes que seguiria de micro-ônibus para um lugarejo chamado Linha de São Miguel, na Rota Caminhos de Pedra, um dos tours possíveis pela região de vinícolas da Serra Gaúcha.
Caminho da roça até a festa do Filó
No horário marcado, saímos do hotel e, com meia hora de percurso, paramos diante de um portão de onde se avistava uma casa de pedra típica da época da imigração. Fomos recebidos por um coral formado por colonos de várias faixas etárias que entoava canções italianas. Depois de visitar a casa de pedra e receber informações sobre cotidiano dos imigrantes italianos no começo do século passado, seguimos para um galpão onde antigamente se fazia vinho. Havia uma grande mesa posta com algumas delícias regionais, como pão caseiro, fortaia (espécie de omelete com queijo e salame), grostoli, polenta assada, sagu, salames e queijos artesanais.
Enquanto aguardávamos o momento de “atacar” aquela comida toda, o bravo coral de colonos mandava ver nas cantigas acompanhado pelo acordeón de um rapaz que não tinha mais que 20 anos de idade. Depois de nos fartarmos, vimos que havia uma tina cheia de uvas. Veio então o convite para amassá-las com os pés, repetindo a forma mais artesanal de extrair o suco para a feitura do vinho, atividade comum muitas décadas atrás nessas pequenas propriedades.
Como sou avesso a me melecar, seja com os pés ou as mãos, Salete foi a representante da família nesse ritual que hoje é realizado para que turistas como nós possam fazer fotos e postar nas redes sociais para receber likes de amigos e parentes. Salete achou divertido, assim como a maioria do grupo.
Quando voltava para o hotel, pude refletir sobre essa primeira atração na minha volta a Bento Gonçalves. Não tem nenhum luxo, tudo é muito simples, feito com carinho pelos colonos envolvidos. Mas achei um pouco caro cobrarem R$ 150 pelo passeio com a comida. Havia mais suco de uva do que vinho. Salete diz que sou mão de vaca. Bem, nasci em Minas Gerais. E, nós, mineiros, somos realmente bastante controlados. Mas ainda acho que poderia ser mais barato.
Mais informações sobre o passeio Filó em São Miguel
O tour começa na pequena igreja da comunidade. Há apresentação histórica da Casa de Pedra, visitação ao forno a lenha (preparo do pão), preparo da uvada (geleia de uva), visitação ao parreiral da família e ao alambique da família (preparo da grappa), e passeio com a carruagem.
Depois do tour, a festa na cantina é o momento em que o visitante é recebido por moradores que se reúnem para cantar, além de servirem uma mesa farta com produtos típicos italianos, muitos feitos na hora no local. O passeio é oferecido todos os sábados. Quando terminar a vindima (em 19 de março), o passeio deve continuar sendo oferecido pelo Dall’Onder durante todo o ano com o nome de “Filó em São Miguel”. Contato: Dall’Onder Viagens e Turismo (agência de turismo do hotel).
Telefone: (54) 3455-3555. Preço por pessoa: R$ 150 (não é necessário ser hóspede).
O hotel Dall’Onder
Dall’Onder Grande Hotel: Com 36 anos de história e 252 apartamentos, o hotel tem padrão quatro estrelas e está localizado na principal avenida gastronômica da cidade, a menos de 1km do Parque de Eventos de Bento Gonçalves e a 1,5 km do centro da cidade. É dirigido por Tarcísio Michelon, considerado o principal responsável pelo desenvolvimento turístico na região de Bento Gonçalves. O hotel oferece piscina térmica, sauna e massagem, dois restaurantes (com cardápio italiano contemporâneo); café da manhã diferenciado (com cerca de 110 itens, incluindo alimentos sem glúten e lactose, diet, light e integral); três centros de eventos e galeria comercial (artesanato, decoração, vestuário, salão de beleza). Reserve aqui.