Sou jornalista de turismo desde 2007 e, para escrever bem de viagem, a dica é ler muito: sejam livros de viagem ou não. Trabalhei 11 anos em uma das maiores revistas de turismo do Brasil, escrevendo textos sobre os destinos e editando textos enviados pelos freelancers.
Se você quer escrever de viagem, é importante ler bons textos para aumentar o seu vocabulário. Em um texto de turismo é inaceitável, por exemplo, escrever que algo “é indescritível”. Conte ao leitor como é o lugar, o som, o cheiro, as pessoas que transitam por ele e as sensações de estar nesse lugar. Para isso, recomendo, especialmente, autores que usam muito bem as palavras para descrever cenários, personagens e sensações. Aí vai então a lista de livros que li e indico para vocês se inspirarem, treinarem muito, e terem mais ferramentas para escrever bem sobre viagem.
Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu
O livro de contos é uma boa publicação para entrar no universo de Caio Fernando Abreu. Na minha opinião, esse autor brasileiro consegue descrever sensações como poucos autores no mundo. Caio Fernando Abreu brinca com o ritmo das frases, com as palavras e as pontuações para descrever agonia, medo, dor, solidão, desespero, amor, desamor, tristeza e felicidade – sentimentos tão difíceis de serem explicados com uma combinação de letras. Morangos Mofados hoje em dia é um livro raro. Caso você não encontre, indico também O Ovo Apunhalado e as coletâneas de contos e cartas de Caio Fernando Abreu.
Usavam palavras grandes – ninguém, mundo, sempre”
Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa
Enquanto Caio Fernando Abreu é um mestre para descrever sensações, Mario Vargas Llosa é um mestre para descrever lugares e personagens. Nesse livro envolvente, ele narra a história de amor entre Ricardo e Lily (a menina má). O interessante é que o peruano Ricardo a conhece em Lima na década de 50 e anos depois viaja para a França, onde consegue um emprego de tradutor da Unesco. Ricardito, como Lily o chama, viaja tembém para Londres, Tóquio e Madri, e vive encontros e desencontros com Lily. Enquanto isso, o leitor lê descrições da Lima da década de 50, de Paris dos anos 60, da Londres hippie na década de 70, da Tóquio dos mafiósos na década de 80 e da Madri com as lutas libertárias na transição política dos anos 90.
Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink
O livro de viagem é o relato de Amyr Klink sobre a travessia que fez da África a Paraty em um barco a remo, sozinho. O navegador brasileiro descreve as ondas do mar, o vento, a relação com o barco e com os objetos a bordo, um baleia que aparece à noite, a forma de ver e contar o tempo, os dourados que lhe fazem companhia na travessia e a relação com a natureza ao redor. Cem dias de um homem no mar poderiam formar um livro cansativo não fosse a forma como Amyr Klink descreve as sensações, os animais e as paisagens com as quais conviveu.
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A arte de viajar
O filósofo francês Alain de Botton faz uma análise das emoções positivas e negativas de viajar enquanto relata viagens por Barbados, Amsterdã, Madri, Provence e o deserto do Sinai. No livro de viagem, ele faz uma reflexão, por exemplo, da busca da felicidade que envolve viajar, do quão aceitável é a solidão em aeroportos comparando com restaurantes e o que nos leva a deixar o conforto de casa e fazer as malas.
Fama e anonimato, de Gay Talese
Escrever bem de viagem significa usar e abusar do jornalismo literário, ou seja, escrever reportagens mostrando a realidade, mas misturando técnicas da literatura e dos romances. O mestre nesse estilo é o jornalista norte-americano Gay Talese, que publicou no livro diversas reportagens descrevendo o estilo urbano de Nova York, a construção da ponte Verrazzano-Narrows e perfis de artistas e esportistas americanos. O perfil mais importante do livro, em um texto que virou o mais emblemático do jornalismo literário, é “Frank Sinatra está resfriado”. Gay Talese fez um retrato do cantor, com todas as suas preocupações, sem entrevistá-lo. É um primor.
Frank Sinatra, segurando um copo de bourbon numa mão e um cigarro na outra, estava num canto escuro do balcão entre duas loiras atraentes, mas já um tanto passadas, que esperavam ouvir alguma palavra dele. Mas ele não dizia nada; passara boa parte da noite calado; só que agora, naquele clube particular em Beverly Hills, parecia ainda mais distante, fitando, através da fumaça e da meia-luz, um largo salão depois do balcão, onde dezenas de jovens casais se espremiam em volta de pequenas mesas ou dançavam no meio da pista ao som trepidante do folk rock que vinha do estéreo.
A poeira dos outros, de Ivan Marsiglia
Esse é mais um livro de reportagens contadas com muitos toques literários. É uma compilação de 20 reportagens publicadas pelo jornalista Ivan Marsiglia nas revistas Trip, Playboy e no Caderno Aliás, escritas todas com muita criatividade. Ivan conta, por exemplo, uma madrugada em um pronto-socorro da periferia de São Paulo e traça um perfil do cabeleireiro Celso Kamura mostrando as celebridades e as frequentadoras do salão de São Paulo. Mas o texto mais criativo é a reportagem em que, para contar sobre a expansão imobiliária na beira das estradas e a migração dos animais, ele escreve em primeira pessoa na visão de uma onça suçuarana. É uma aula de criatividade.
Bem que meu tio Iauaretê me avisou: não vá praquelas bandas de lá, onde vive o Macaco Pelado, que é perigoso. Mas fazer o quê, se sou bicho criado solto, acostumado a zanzar em territórios de 65 km², 20 km² que seja, e nem isso me deixam? Ademais, se fiz foi por precisão, para buscar meu de-comer, corrido e revoado dali de onde moro, terra modesta, mas limpinha, e cada vez mais apertada. Cheguei assim chegado, sem pedir licença nem me apresentar. Então, perdoa a indelicadeza. Sou suçuarana, onça-parda, vermelha, puma, leão-baio. Nome certo, de ciência, diz que é puma concolor – mas o povo que me tirou da beira daquele rio de carros está me chamando é de Anhanguera mesmo.
As boas coisas da vida, de Rubem Braga
Ler Rubem Braga é imprescindível para quem quer escrever bem. O cronista descreve sensações que envolvem ver um passarinho, borboletas e cajueiros. Rubem Braga é um dos principais cronistas do Brasil, e escrever bem sobre lugares envolve, principalmente, saber contar uma boa crônica: selecionar fatos dentro de um contexto (de um destino, no caso), que se tornem envolventes e se tornem uma boa história.
Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem
Minhas histórias dos outros, de Zuenir Ventura
O título não poderia ser melhor: o jornalista Zuenir Ventura descreve no livro que escreveu aos 74 anos, sua memória com os outros. Os outros, no entanto, são personagens importantes da história do Brasil, como o cineasta Glauber Rocha, a apuração que fez da morte de Vladmir Herzog e a foto acidental que tirou de Jaqueline Kennedy. Além de dar uma aula de escrita (e de descrição de personagens), o livro mostra outro lado da história recente do Brasil: de quem viveu de perto.
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