Viajar pelo sul dos Estados Unidos vai muito além daquela já conhecida Rota da Música. E apesar do peso do nome – Rota dos Direitos Civis dos Negros – e de todas as perseguições e violências que aconteceram na região, essa rota necessária é ao mesmo tempo leve. Percorri os passos de Martin Luther King Jr., de carro e junto de duas amigas. O caminho — uma parte da Trilha dos Direitos Civis que atravessa 15 estados do país — é envolvido por memoriais e museus interativos que só os Estados Unidos sabem fazer, mas também por restaurantes e hotéis sofisticados, mirantes em arranha-céus, bares animados, comida típica sulista e a música que, claro, está sempre rondando essa região e essa road trip.
Aqui você encontra tudo sobre a Rota dos Direitos Civis nos Estados Estados Unidos: quais são as atrações, os restaurantes, os hotéis, as comidas e tudo o que você precisa ver em cinco cidades em que a população fez a sua parte para exigir o básico: respeito e igualdade.
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Meu corpo nunca se viu tão arrepiado tão frequentemente. E não é no sentido figurado, não. Meus pêlos se arrepiavam a cada placa explicativa ou a cada história que os guias contavam ao relembrarem quando a família sentiu na pele (literalmente, e mais uma vez nada do sentido figurado) os horrores da segregação. Para se envolver nessa história, faz sentido começar pelo começo: em Atlanta, onde nasceu Martin Luther King Jr., o pastor que lutou contra a discriminação e segregação, chegando a receber o Prêmio Nobel da Paz em 1964.
Atlanta: O que fazer
Se você costuma ir para os Estados Unidos, é bem provável que já tenha passado por Atlanta, ao menos no aeroporto. É considerado o aeroporto mais movimentado do país, e quem vê o sem-fim de conexões ali não imagina que a Geórgia já foi o estado com a maior segregação racial dos Estados Unidos. Hoje, Atlanta é das cidades mais procuradas por quem quer qualidade de vida. É cheia de áreas verdes, arte por todo lado e áreas bem gostosas com um restaurante do lado do outro.
Martin Luther King, Jr., National Historic Site
Faz o maior sentido começar o seu roteiro pelo Martin Luther King Jr. National Historic Site. Não é só um memorial: é todo um complexo dedicado ao pastor. Foi fundado pela Coretta, mulher dele, só dois meses e meio depois da morte do líder, como o memorial oficial pela vida, trabalho e legado de Martin Luther King Jr. O lugar mais disputado é a casa de 1895 onde ele nasceu, e para visitá-la, só com um tour, gratuito, que acontece de hora em hora a partir das 10h. Chegue cedo ao Visitor Center e aproveite que a partir das 9h já é possível se registrar para o tour. Depois disso, você fica livre para visitar todo o quarteirão com o memorial.
O ponto mais imponente é o memorial em si: o King Center. Atrás da grande frase pintada no chão “Non Violence or Non Existence”, estão os restos mortais de Martin Luther King Jr. E na área fechada do memorial você tem a chance de ver uma exposição com objetos de Martin Luther King (a camisa que ele usou, caixa de joias e até capas de passaporte ) e objetos que remetem a outro líder importante: Mahatma Gandhi.
Depois, você nem precisa atravessar a rua. O prédio vizinho ao monumento é a igreja Ebenezer Baptist Church, onde Martin Luther King Jr. foi batizado. Foi ali também onde ele trabalhou como co-pastor de 1960 até ser assassinado em 1968. Como uma despedida do líder, o funeral também aconteceu nessa igreja.
Também no mesmo complexo, não passe reto pela Fire Station No 6, estação do Corpo de Bombeiros que, muito mais do que um prédio histórico de 1894, ganhou fama mesmo por ter sido o primeiro departamento de bombeiros a contratar bombeiros negros, em 1963, em meio a toda a segregação que acontecia nos Estados Unidos.
Mais coisas para fazer em Atlanta
World of Coca-Cola
Na cidade que é sede da Coca-Cola e no país que sabe fazer museu de tudo quanto é coisa, só poderia nascer dessas duas características um museu da Coca-Cola, o World of Coca-Cola. Ele é bem central: fica no Centennial Park, o parque bem no meio da cidade que é um complexo de museus. Primeiro, você vai entrar em uma sala cheia de objetos históricos da produção da Coca-Cola nos Estados Unidos, e tudo explicado por uma animadora.
Depois, a visita no Museu da Coca-Cola é por conta própria: inclui salas sobre o marketing da empresa, um cofre que dizem ter o segredo da fórmula da Coca-Cola, antigas geladeiras e algumas atividades interativas (apesar que, em se tratando de Coca-Cola e dos Estados Unidos, poderia ter muito mais interatividade). Mas a parte que mais atrai a galera é a o segundo andar, onde você pode provar bebidas da Coca realmente do mundo todo. E à vontade. Elas ficam em máquinas de refrigerante e tem, por exemplo, Sprite da Romênia, o nosso guaraná, chá da Venezuela, Fanta da Grécia… você pode ficar lá provando o tempo que quiser. É um open bar de Coca-Cola.
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Museus do Centennial Olympic Park
O parque onde está o museu da Coca-Cola foi todo criado pelo Comitê de Atlanta para os Jogos Olímpicos para as Olimpíadas de 1996 que aconteceram na cidade. É ali que você vai ter aquela vista clássica de Atlanta, com o gramado verde e os arranha-céus de fundo que você já deve ter visto por aí. É no Centennial Park o Georgia Aquarium , que já foi o maior aquário do mundo, o The Chldren’s Museum of Atlanta, o National Center for Civil and Human Rights, com 13.000 artefatos de Martin Luther King Jr., e o College Football Hall of Fame.
Skyview ATL
Trata-se da roda-gigante bem em frente ao Centennial Park, com vista para o parque e o Downtown. Não é essencial, mas se você gosta de roda-gigantes pode ter uma boa visão da cidade antes de explorar Atlanta. A roda-gigante tem a altura de um prédio de 20 andares e 42 cabines confortáveis. Elas não são daquelas em que dá para ficar em pé, como a roda-gigante de Londres ou mesmo de São Paulo, mas rende um momento gostoso conversando entre amigos.
Mercados de Atlanta
A cidade dos estudantes fez surgir em Atlanta vários mercados de comida e de roupas bem moderninhos. O Krog Street Market, mais focado em comida, tem de tudo: de comida japonesa a italiana. Já o Ponce City Market é bem maior e está em um prédio de tijolinhos de uma antiga fábrica: é para passar algumas horas, já que está cheio de restaurantes, mas também de lojas bem locais.
É obvio que você não vai levar móveis para a casa, mas dê uma espiada na Williams Donoma, que tem objetos de decoração bem próprios. Na “praça de alimentação”entre as antigas paredes de tijolos e encanamentos, o difícil é escolher um restaurante: tem cafeteria, o típico frango frito sulista no Hop’s Chicken, restaurante mexicano e a loja de bolos linda Cake Culture, com invenções como mil folhas de morango e bolo de matchá.
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Primeira etapa da Road Trip: de Atlanta a Nashville
Quatro horas e meia de carro separam Atlanta, a capital da Georgia, de Nashville, a capital do Tennessee, que é uma das capitais mais animadas dos Estados Unidos. Se você estiver em boa companhia (como eu estava com as amigas e também jornalistas Natalie Soares, do Sundaycooks, e Sylvia Barreto, do Viajar é Simples), coloque uma música sulista, cante junto e o caminho vai passar rápido.
Nashville parece ter reunido só as melhores características: os museus são impressionantes e dos maias interativos, a cidade é andável (se estiver hospedado longe do centro você só precisará encontrar um estacionamento para parar o carro), os arranha-céus são daqueles espelhados com o que existe de mais moderno em design, e apesar de reunir um pouco de vários outros lugares dos Estados Unidos, Nashville tem alma própria: é a cidade do country – e detalhe, naturalmente, sem que seja forçada para isso. As garotas usam botas country nas ruas, os homens, os chapéus, e dos bares, um ao lado do outro na agitadíssima avenida Broadway, emanam músicas country que todos sabem cantar e dançar – independentemente da idade.
National Museum of African American Music
Vou dar um spoiler: o National Museum of African American Music foi o melhor museu de toda a rota. Entendo que o spoiler pode estragar a surpresa, mas é para te convencer a não deixar de lado esse museu aberto em 2021. E já que se trata da Rota dos Direitos Civis nos Estados Unidos, faz o maior sentido ir logo a esse museu e priorizá-lo. Reserve um bom tempo porque a vontade é de passar o dia ali: você vai entender toda a influência dos negros na música norte-americana e na música mundial, tudo com muita interatividade. Quem montou, aliás, mereceria dar aulas de montagem de museus e exposições.
Assim que você comprar o seu tíquete, vai ganhar uma pulseirinha. Isso porque você pode salvar as músicas que ouvir e gostar durante a visita: é só encostar a pulseira na tela para ir salvando a sua playlist, e depois ela pode ser enviada para você por email. A visita começa com um filme de cerca de 20 minutos apresentados em um teatro de 200 lugares que vai o fazer conectar tudo o que ja viu na viagem: a chegada dos negros aos Estados Unidos, a escravidão, a Guerra Civil e a influência disso tudo na criação do blues, do gospel, do jazz, soul, rap..
São cinco áreas, cada uma dedicada a um gênero musical. E em cada uma você pode passar minutos e mais minutos e esquecer da vida em telas para você consultar, quase como uma árvore genealógica, quais artistas influenciaram e quais foram inflienciados dentro de cada gênero musical, ouvindo uma coletânea de músicas de cada um. Outras telas demonstram o momento histórico vivido durante a ascenção de cada gênero musical e mais algumas revelam documentários de artistas e gêneros musicais. Você ainda pode brincar em estúdios, cantando ou tocando instrumentos musicais.
Mais coisas para fazer em Nashville
Veja aqui tudo o que fazer em Nashville: os museus, restaurantes, os bares, studios..
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A parte mais intensa da Rota dos Direitos Civis: rumo ao Alabama
O Alabama foi o palco dos acontecimentos mais marcantes do Movimento dos Direitos Civis. Foi em Montgomery que Rosa Parks se recusou a ceder o lugar a um branco em um ônibus dando início ao boicote dos ônibus. Em Selma, ocorreram as três marchas lideradas por Martin Luther King em direção ao Capitólio de Montgomery, a capital do Estado, pelos direitos básicos. E em Birmingham, a 16th Street Baptist Church, com uma congregação majoritariamente negra, foi bombardeada em 1963 em um atentado da Ku Klux Klan matando quatro meninas. Foi especialmente depois desse atentado que as atenções se voltaram aos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Birmingham: o que fazer
Se você imagina o Alabama como um lugar ermo, pode ir mudando toda a sua concepção: a começar que de todo o caminho que percorri nos Estados Unidos é o Alabama o estado com as estradas mais bonitas: cheias de verde e pontuadas por casas com gramados impecáveis que devem dar trabalho para manter. E as cidades também não têm nada de pacatas. Birmingham, aliás, é o melhor exemplo disso.
Birmingham tem um quê de Washingon D.C. Faz parte da lista de cidades andáveis dos Estados Unidos, mas ainda assim é formada por viadutos e avenidas largas bem movimentadas. No século 19, os negros representavam 43% da população, mas eram permitidos (oi? o absurdo já começa aí) a viver em apenas 11 % da área residencial da cidade. O fim da Guerra Civil nos Estados Unidos, em 2 de junho de 1865, não significou o fim da discriminação com os negros.
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Em 6 de dezembro de 1865 foi aprovada pelo congresso americano a 13a Emenda à Constituição, que aboliu oficialmente a escravidão fazendo com que todos os estados aderissem à emenda. No entanto, o governo do Alabama se amedrontou com o fato de que os negros poderiam dividir o poder e, na prática, a discriminação continuava.
Negros não podiam andar na mesma calçada que brancos nem mesmo olhar nos olhos de brancos: esse simples ato já seria motivo para que os negros fossem para a cadeia. Histórias assim, enfrentadas por negros tão pouco tempo atrás, foram contadas a mim por gente que viveu na pele as discriminações: o guia e professor Barry McNealy durante um almoço no elegante restaurante Ironwood. Eu nunca havia almoçado arrepiada, com lágrimas nos olhos, envergonhada e enojada dos fatos que ouvia na mesa de um restaurante. Talvez por isso tenha perdido a fome e deixado a comida no prato.
Foi nesse contexto que surgiu o grupo supremacista branco Ku Klux Kan, organização terrorista fundada no Tennessee em 1865. E depois da pausa para essa história, faz ainda mais sentido visitar Birmingham e começar pela 16th Street Baptist Church.
16th Street Baptist Church
A igreja de tijolinhos na esquina da rua 16 deveria ser apenas uma igreja bonita por fora e inspiradora por dentro. Mas acabou se tornando um marco na história e por isso um importante ponto turístico. Em 15 de setembro de 1963, uma bomba deixada por membros da Ku Klux Klan explodia matando quatro meninas negras e deixando outros 20 feridos. O motivo do atentado seria apenas matar negros, já que a igreja, criada em 1873 como a primeira igreja para negros de Birmingham, era um lugar de encontro para discutir os direitos civis.
Tours são oferecidos aos turistas de terça a sábado por US$ 10, mas se você estiver lá no domingo, como eu, sem problemas: a visita pode ser ainda mais especial. É que aos domingos acontece ali a missa da igreja batista, e é só chegar e entrar. Você vai ter a chance de ouvir o belo coral formado pela maioria negra e as tocantes palavras mundanas do pastor.
Em certo momento, precisei ir ao banheiro. Era no subsolo, o mesmo ponto onde as meninas foram mortas há nem tanto tempo. Impossível não se emocionar vendo a comunidade ainda ativa no que tentaram destruir.
Vulcan Park & Museum
O nome dessa atração de Birmingham não tem a ver com o que você vai encontrar por lá. Pelo nome, parece um parque com vulcões, mas o “Vulcão” no caso é o nome da estátua de ferro que ocupa o topo de uma colina e, como tudo nos Estados Unidos envolve um superlativo, é a maior estátua de ferro do mundo. Mas bem mais legal que a estátua é o museu que mostra toda a história que a rodeia.
Birmingham era rica em matéria-prima, especialmente carvão e ferro e por isso não faltava trabalho nessa cidade do Alabama. A cidade foi fundada em 1871, depois da Guerra Civil Americana, quando teoricamente a escravidão já havia acabado. Birmingham então recebeu trabalhadores especialmente os negros, que migraram para Birmingham em busca de um trabalho na indústria do aço e do ferro. Mas, como resumiu bem o guia Barry McNealy, “Birmingham era uma cidade de minas mas com a mentalidade das plantations”. O museu mostra então toda a rotina desses trabalhadores, que, na prática, era quase em regime de escravidão.
Depois de entender o museu do Vulcan Park, suba até a torre onde está a estátua. A 37 metros de altura, um observatório a céu aberto revela um visual 360 graus da cidade. O museu é gratuito até às 17h, e subir a torre custa US$ 6. Já se você chegar depois das 17h, é preciso pagar mais US$ 5 para entrar no parque.
Rota dos Direitos Civis em Birmingham
Como sempre se espera de uma cidade dos Estados Unidos, Birmingham não desaponta em infraestrutura para o turista. E com tantos acontecimentos que a rondam, Birmingham explorou muito bem a Rota dos Direitos Civis. Placas numeradas estão dispostas em frente a pontos importantes, explicando o que aconteceu ali. Basta seguir a ordem e pronto: você já vai estar fazendo a Trilha dos Direitos Civis. As placas, inclusive, foram muito bem pensadas: em cada uma há um buraco com a figura de uma pessoa, como um espelho para o turista.
A trilha começa no parque Kelly Ingram, na esquina da 6th Avenue North com a 16th Street. Ali, já são várias as esculturas lembrando a Marcha das Crianças em Birmingham em 1963. Nessa época, Martin Luther King Jr e outros líderes estavam fracassando em Birmingham na luta contra as políticas segregacionistas visto que poucos adultos aderiram ao movimento.
Por iniciativa da Conferência de Liderança Cristã do Sul, milhares de crianças marcharam todos os dias, por uma semana, contra a segregação. Burmingham então se tornou um campo de batalha, com 2.000 crianças presas e outras sendo mordidas por cachorros de policiais. Estão na trilha dos Direitos Civis em Birmingham essa história e outras ocorridas no teatro para negros, na igreja, na capela onde as meninas assassinadas na Igreja Batista foram veladas e no motel onde Martin Luther King Jr. ficou hospedado.
Onde comer em Birmingham
A área de Uptown é um trecho bem moderno de Birmingham, com um quê de Chicago, Atlanta ou mesmo Miami: é um labirinto de viadutos e de arranha-céus. Recomendo o Ironwood Kitchen & Cocktails, restaurante elegante ótimo para um brunch, que serve pratos sulistas, como o clássico shrimp & grits (US$ 15) e o pesado Chicken & Waffles (US$ 13), um waffle com queijo de cabra, bacon, frango frito e maple syrup com jalapeño.
Além desses, também estão no cardápio os clássicos de todo café da manhã americano, como avocado toast e eggs Benedict. Para a noite, um lugar onde tudo é gostoso é o Automatic Seafood & Oyster, cujo menu vem com peixes do Golfo do México e ostras do Alabama. Aproveite que a região costeira do estado é um dos mais importantes produtores de ostras e peça a combinação de ostras de diversas regiões do Alabama. Ou ainda o polvo grelhado e o atum selado. São deliciosos.
Selma
Selma foi uma parada no caminho entre Birmingham e Montgomery. Uma hora e 45 minutos de estrada a separam de Birmingham, mas a estrutura é completamente diferente. Embora seja tão importante na Rota dos Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos, Selma ainda não está tão desenvolvida para o turismo quanto outras cidades da rota ou mesmo dos Estados Unidos. Às margens do Rio Alabama, ela parece ter parado no passado e não se desenvolvido tanto. Até chegar no centro, a cidade é uma mistura de mansões muito bem ajeitadas com mansões claramente abandonadas. Mas até isso faz de Selma uma parada especial: já que explorar o passado é o mote da viagem, se envolver nesse tempo fica mais fácil em Selma.
A cidade foi um dos grandes centros na luta dos negros pelo direito ao voto e viu acontecer ali marchas e massacres que acabaram virando parte da história. Isso está bem contado no filme Selma que, aliás, é importante ser assistido antes de fazer a rota dos direitos civis nos Estados Unidos.
Em 7 de março de 1965, cerca de 600 manifestantes marchavam pelos 86 km de Selma a Montgomery, onde está o parlamento do Alabama, quando foram duramente atacados pela polícia do Alabama. Ao chegarem à ponte Edmund Pettus, em Selma, eles foram confrontados por policiais armados com cassetetes, chicotes e gás lacrimogêneo. O episódio, que ficou conhecido como Domingo Sangrento (“Bloody Sunday”) foi transmitido em todas as TVs, gerando ainda mais indignação no país.
Depois do episódio, houve mais duas marchas. Na segunda, em 9 de março, liderados por Martin Luther King Jr., os manifestantes chegaram a ficar frente a frente com os policiais. Mas para evitar confrontos, Martin Luther King Jr. preferiu liderar o grupo de volta até a igreja. Na terceira tentativa, em 21 de março, os manifestantes seguiram mais uma vez, e em 24 de março 25 mil pessoas chegavam ao capitólio de Montgomery clamando pelo direito dos negros ao voto.
Selma rende mesmo algumas horas. Olhar e pisar na ponte que viu violências e esperanças mostra que ela é muito mais do que um pedaço de concreto sobre o Rio Alabama. Os museus estavam fechados no dia em que eu pisava na cidade, mas você pode ir mais a fundo na história visitando o National Voting Rights Museum and Institute e o Civil Rights Memorial Park antes de partir para Montgomery, a mesma rota que trilharam os manifestantes.
Montgomery
Montgomery é a capital do estado do Alabama, e só por ser a capital de um estado norte-americano já poderia ter a sua importância no mundo. Mas não é isso que deu fama a Montgomery. A cidade é muito mais que uma capital. É outro marco no movimento pelos direitos civis.
Você já viu que Montgomery foi onde chegaram os manifestantes que partiram de Selma. Mas, além disso, foi também onde aconteceu um dos fatos mais conhecidos de toda a luta dos direitos civis: o boicote aos ônibus, liderado por Martin Luther King Jr. em 1955 depois de Rosa Parks se recusar a dar seu lugar a um branco no ônibus.
O que fazer em Montgomery
Rosa Parks Museum
A história do boicote aos ônibus e de Rosa Parks está muito bem contada no Rosa Parks Museum, museu imperdível nesse pedaço dos Estados Unidos. Pelo acontecimento pesado, poderia ser um museu recheado de fotos em preto e branco e textos longos. Muito pelo contrário. O museu é todo interativo e, não importa quantos textos você leia, é só no museu da Rosa Parks que você realmente vai entender a história.
A exposição começa com um filme mostrando toda a vida de Rosa, como filha, esposa e trabalhadora. Vozes da população demonstram a rotina de segregação e exclusão em que viviam os negros. E o ponto alto é o filme projetado em um ônibus que mostra de uma vez por todas tudo o que aconteceu no ônibus antes, durante e depois de Rosa Parks se recusar a ceder o lugar, incluindo as falas do motorista, dos outros passageiros, dos policiais e como eram distribuídos os assentos.
O chocante é que os negros deveriam sentar da metade para trás do ônibus, e Rosa Parks sentava-se na fileira do meio. A pressão era tamanha que Rosa Parks na verdade recusou-se a dar o lugar a um branco por dizer estar em seu direito de sentar-se na metade do ônibus – ou seja, a segregação era tamanha que ainda assim ela não se sentia merecedora de sentar da metade para a frente. Tudo aconteceu não só na mesma cidade em que você está pisando: o museu ocupa o mesmo lugar onde parou o ônibus e onde ela foi levada à prisão.
Dexter Avenue Baptist Church
A igreja batista de tijolinhos quase em frente ao capitólio, a Dexter Avenue Baptist Church, é outra parada obrigatória em Montgomery. Com a libertação dos escravos (que, vendo a história não significou a liberdade), os brancos clamaram por uma igreja própria. Foi então que, do outro lado da rua, foi construída a 1st Baptist Church, apenas para os brancos. A Dexter, para os negros, foi construída em 1879, na época chamada de Second Colored Baptist Church.
Essa história já valeria, mas é por mais um feito que ela inclusive foi candidata a Patrimônio Mundial da Unesco. Não era lugar de conferências, mas foi na Dexter Avenue Baptist Church que, um dia depois de Rosa Parks ser presa, Martin Luther King Jr. chamou líderes para uma reunião de onde saiu a decisão de boicotar os ônibus da cidade.
Quem me contava essa história era a guia Wanda Howard Barrel, que mais uma vez nessa rota foi a responsável por me deixar literalmente arrepiada. Ela tinha apenas sete anos quando seus pais participaram das manifestações pelos direitos civis. Sem poder participar, ela cantava louvores pela cidade. Wanda não se envergonhou em cantar para nós essas músicas. Com a voz de quem poderia estar se apresentando em uma casa de jazz, ela cantou com voz solta e irreverente, e com a igreja fechada só para nós. “Let it shine”, dizia a letra em alto e bom som, ecoado naquela tão importante igreja. Às sextas e sábados, das 10h às 16h, você também pode visitar a igreja. Ela está de portas abertas para tours, e basta marcar um horário.
Organize a sua viagem:
Onde comer em Montgomery
A dica é ir no Dreamland BBQ, um restaurante descontraído bem local em todos os sentidos: é o lugar onde vão os moradores em família e a comida é típica da região, simples e deliciosa. Não importa se é a costela desossada, o chicken tender, a lingüiça.. tudo vem brilhando e suculento na mesa, por uma média de US$ 11. Termine com o famoso pudim de banana do restaurante (US$ 2,50) feito com receita secreta.
Do Alabama à Louisiana
A estrada que me guiou por essa rota tocante continuou. Foram mais duas horas e meia de Montgomery à Louisiana. Não foi New Orleans meu primeiro destino, não. Já que a ideia foi sair do óbvio em toda a viagem, o destino era Mobile, uma cidade aconchegante, alegre e tão rica em história e arquitetura quanto New Orleans. Mas a música, a arquitetura e a gastronomia dessa outra parte dos Estados Unidos é assunto para um novo post.
*Viagem a convite da Travel South USA. O conteúdo é independente, baseado na opinião livre da autora.
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