A menos de uma hora da minha chegada à casa da dona Albertina, na ilha de Chiloé, no Chile, ela foi até o quintal, colheu tomates, pepinos e batatas e serviu uma salada com os vegetais mais frescos e saborosos que já comi.
A mesa tinha sido posta para o almoço em sua singela casa de madeira, à frente de um lago imenso em meio a bosques intocados.
A ilha chilena de Chiloé é assim: a delícia de viver a simplicidade em um cenário fabuloso. Em uma viagem por lá, o gostoso é se embrenhar em uma cultura e uma paisagem quase intactas.
Chiloé bem que parece, mas não é remota — está na Região dos Lagos, a uma hora e meia de voo de Santiago. Tem clima de um Chile parado no tempo.
A natureza foi bondosa em Chiloé e continua quase inalterada. Você certamente vai ver praias desertas, mar calmo feito lagoa, parques nacionais e uma série de lagos e florestas nativas enquanto circula pelas estradas sinuosas.
Para completar, as casas de madeira e muitas igrejas estão em frente às águas formando um cenário bucólico perfeito para descansar e curtir o ócio sem peso na consciência.
Não deixem de almoçar nas casas de nativos. Assim, vocês vão descobrir que Chiloé é quase um país à parte do continente, com seu próprio palavreado, gastronomia e modo de vida.
O povo vive como antigamente, da agricultura e do mar: as mulheres capturam mariscos com as próprias mãos e os homens pescam.
Como chegar em Chiloé
Primeiramente, é bacana saber que a principal ilha é a Ilha Grande de Chiloé e não é interligada ao continente. É alcançada em uma hora e meia de avião desde Santiago, ou por balsa, com partida de Pargua, uma cidadezinha portuária a uma hora da velha conhecida Puerto Varas, conhecida como a capital do turismo de aventura do Chile (dormi uma noite em Puerto Varas para pegar a balsa pela manhã).
Apesar de a construção de uma ponte estar em discussão há 20 anos, o projeto ainda não saiu do papel, especialmente porque grande parte dos chilotes (como são chamados os habitantes de Chiloé) prefere ficar isolada para não sofrer invasão cultural do continente.
Durante a travessia, nem pensem em ficar no carro. Subam ao deque reservado aos pedestres para, assim como eu, ver de camarote os golfinhos, lobos-marinhos e até pinguins nadarem na frente dos picos nevados do vulcão Osorno. É fenomenal!
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A balsa até Chiloé levou só 15 minutos, mas o desembarque na ilha levou a uma metamorfose do visual. Em Chiloé, as casas são sempre feitas com madeira, tanto as coloridas erguidas sobre palafitas quanto as que servem de moradia na cidade e nos campos.
São simples, mas as paredes revestidas por telhas de madeira típicas da ilha (as tejuelas) fazem com que elas sejam uma graça. São uma atração por si só.
Igrejas de Chiloé
Além das casas de madeira, são símbolo de Chiloé também as igrejas completamente construídas com madeira.
Tudo é de madeira. O chão, o teto, as colunas, os altares, os telhados… São 200 igrejas em todo o arquipélago de Chiloé, e 16 delas são Patrimônio Cultural da Unesco.
A maioria é do fim do século 19, e olhem a curiosidade: foram construídas pelos mesmos moradores responsáveis pela fabricação dos barcos, e, por isso, têm o teto em formato de canoa invertida.
O interior é deslumbrante, e totalmente diferente de outras igrejas. Há pelo menos uma igreja de madeira em cada cidade de Chiloé, mas as mais exuberantes são as de Castro, Dalcahue e Achao.
A ode a essas igrejas é tanta que em Ancud, uma das maiores cidades de Chiloé e aonde chega a balsa, a comunidade montou maquetes mostrando a estrutura das 16 igrejas destacadas como Patrimônio Cultural e exibe-as em uma exposição no antigo Convento Inmaculada Concepción.
Dessa forma, vale a pena ir para entendê-las. Eu fui ao museu assim que desembarquei da balsa, e valeu a pena vê-las em maquete, e depois ao vivo.
Ainda em Ancud, vá visitar também o Forte San Antonio. Dos tempos em que serviu como posto dos espanhóis, sobraram só um muro e alguns canhões.
Mas tudo bem. O principal é a espetacular vista para o mar. Subindo uma rampa no forte, você vai conseguir ver uma prainha escondida maravilhosa.
O curanto de Chiloé
Em Ancud nada é melhor do que a casa da senhora Maria Luiza Maldonado e do marido Ditter. Os dois fazem ali o prato típico da ilha, o curanto, e só assistir à preparação já é uma baita atração.
Em uma casa anexa construída especialmente para o cozimento, Maria Luiza apontou um montinho de terra cobeto com folhas. “Aí está o curanto”, disse, causando um certo espanto.
Não entendi nada. Eu ia comer um montinho de terra? Mas carne, batatas, frango, porco e mexilhões já estavam sendo cozidos abaixo daquela terra, há uma hora, sobre pedras quentes.
Conforme a tradição, haviam sido cobertos com mais quatro camadas: folhas de nalca, panos úmidos, terra e, por fim, grama.
O momento do destape, fazendo desabrochar a comida no meio dessas camadas todas é um ritual. Tanto que tem até bancos ao redor.
Quando cheguei, o curanto estava assim… “É esse montinho de terra que vou comer?” pensei
Aí a lona foi sendo destapada e surgiu a carne, as batatas…
Maria Luiza serve a fartura de carnes em uma mesa de sua sala, junto com salada, vinho e sagu de cranberry como sobremesa. Custa 12 mil pesos (cerca de R$ 58), e é preciso reservar com um dia de antecedência.
A casa está um pouco afastada da cidade, e, se você não estiver circulando com uma agência, há um transfer informal: o casal busca o turista com o próprio carro em Ancud. “Não custa nada, não”, respondeu Maria Luiza quando perguntei o preço.
“Vou fazer o turista se perder tentando chegar na minha casa?”, e riu, deixando claro que o objetivo dos chilotes não é acumular dinheiro, e, sim fazer todo mundo se sentir bem.
Melhor batata, melhor carne, melhor mexilhão… Tudo estava super saboroso!
O lugar do movimento
A 82 km de Ancud, está a maior cidade de Chiloé: Castro, uma cosmopolita se comparada às vizinhas. Com 40 mil habitantes, é agitada tanto quanto um município interiorano brasileiro do mesmo porte, com algumas lojas de roupas locais, restaurantes, as únicas casas de câmbio do arquipélago e um ou outro bar, tudo no entorno da praça central.
É ali a mais importante igreja de madeira de Chiloé, feita em estilo neogótico, mas com madeira de cima a baixo e por todo lado. É impressionante e imperdível!
De a igreja, uma curta caminhada de uns 5 ou 10 minutos leva até a beira-mar, onde um mercado vende artesanato e pratos à base de peixes frescos.
Parece um mercadão, então para um almoço ou jantar bem mais agradável, caminhe mais cinco minutos até o restaurante Travesía.
É uma delícia, e a decoração é uma fofura, todo coloridinho e enfeitado com vasos de flores. Fui em fevereiro, e escurecia só lá para às 22h, então fiquei lá conversando de umas 18h até o por do sol, sem perceber o tempo passar.
O Travesía serve pratos fartos (dá até pra dividir), como ceviches (por 6.500 pesos, que dá US$ 10), polvo grelhado com molho de azeitonas (10.000 pesos, que dá US$ 15) e merluza com alho – ingrediente adorado pelos chilotes e que está em tudo.
Tudo mesmo! Assim, de sobremesa, provei sorvete de alho com chocolate (não indico) e sorvete de farinha tostada (esse é gostoso).
Palafitas de castro
Castro é o lugar das casas em palafitas, tanto que tem seis mirantes na cidade para vê-las. Desses, o que mais reúne os turistas é o Mirador Puente Gamboa, o cartão-postal de Chiloé.
Vistas de longe, elas parecem moradias simplezinhas de pescadores, mas uma das minhas grandes e boas surpresas foi ir até elas.
Façam o mesmo. No lado virado para a calçada, elas escondem restaurantes, cafés, hostels e galerias, tudo em construções de madeira, pintadas cada uma com uma cor diferente.
Não deixe de visitar Quinchao e Curaco de Velez
Em Chiloé, também não deixem de ir a Quinchao. Para chegar lá, é preciso pegar uma balsa a partir da Ilha Grande de Chiloé (a principal do arquipélago).
Quinchao é cortada por uma estrada super cênica com curvas, onde a gente vai sempre vendo o mar, os pastos e pequenos vilarejos.
A vontade é parar a cada curva (e isso é fácil já que não passa muita gente) do caminho para chegar à cidade mais linda da ilha: Curaco de Vélez. A praça principal é tão arrumadinha que me lembrou um playmobil.
É rodeada por mais uma igreja de madeira e por uma feira de artesanato,com tudo feito de lã: de ímãs de geladeira a mantas e ponchos.
Lá os homens ficam papeando tomando yerba mate e conversam com quem para ao lado deles. Foi o meu caso, quando vi um deles enrolando uma estaca de madeira e fui perguntar o que era.
Ele me explicou que ele estava preparando a chochoca, uma massa de batata e farinha, cozida por 40 minutos e recheada com carne.
Quando a batata é substituída por milho, vira o milcao, uma espécie de empanada servida sempre como entrada nos restaurantes.
Diferentemente de Curaco de Vélez, a vizinha Achao não é tão bonitinha, mas também vale a pena ir lá porque ela tem uma igrejas de madeira mais lindas entre as 200 de Chiloé, além de um calcadão à beira-mar.
Casa da Dona Albertina
Como eu só falei lá no início do almoço na casa da Dona Albertina, a’vão umas fotos e vídeos para vocês verem as comidas, a casa, e o melhor de tudo.. a vista!
Parque Nacional de Chiloé
Com tanta natureza em todo o canto de Chiloé, o Parque Nacional de Chiloé acaba ficando em segundo plano. Mas é um passeio bem cobiçado.
Tem áreas imensas de florestas nativas e trilhas que percorremos ao som do mar. A infra-estrutura é ótima. Tem placas por todo lado, centro de visitantes, museu e um restaurante na beira do lago. Só lembrem de passar muito repelente porque a quantidade mosquitos é absurda.
No caminho para o parque vocês vão passar pelo Lago Huilinco. Não passem reto e façam uma parada lá. Muita gente acampa próximo do lago, então tem uns restaurantes, caiaque e.. empanadas de maçã! Acabei não provando porque eu já tinha comido muito, mas não esqueço do cheiro.
Dizem lá em Chiloé que uma novela da Globo está sendo gravada na ilha, com previsão de que seja exibida em 2018.
Parece que a história é sobre a ditadura no Brasil e a fuga de perseguidos para o Chile. Se for verdade, já já Chiloé vai ficar bem famosa. Então, aproveitem enquanto ela ainda tem esse clima tranquilo.
Como rodar por Chiloé
Para rodar por Chiloé, pode ser com carro alugado para ter liberdade total de ir parando onde bem entender. Eu não sou de me aventurar dirigindo onde eu não conheço, principalmente quando as estradas não são das mais bem sinalizadas (como em Chiloé).
Tem ônibus circulam entre as principais cidades do arquipélago, mas em viagem ninguém quer perder muito tempo.
Eu fiz tours com uma agência, a Chiloetnico, que é a principal de Chiloé. A vantagem é que você não precisa passar tensão para chegar a áreas remotas, tem informações dos guias e é levado a casas de moradores da ilha.
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